A sexta-feira (10/09) começou animada para a Mandata Coletiva Pretas Por Salvador (PSOL/BA). Na data em que se celebra o Dia de Luta Contra a Gordofobia, as Pretas iniciaram a sua agenda de atividades realizando Sessão Especial na Câmara Municipal de Salvador para dialogar sobre o tema. Na oportunidade, o combate à gordofobia e a pressão estética por um corpo enquadrado nos padrões de beleza da sociedade, os preconceitos, discriminação e processos psicológicos que esse público enfrenta, fez parte do diálogo que contou com a presença de pessoas que representam a causa e compartilharam suas experiências. A mesa da Sessão foi composta pelo Técnico em Segurança do Trabalho, também homem negro, gordo, gay e anti-racista, Gilmar Oliveira, pela Multimilitante, Palestrante Criadora de conteúdo moralmente questionável, Milly Costa, pela Psicóloga e advogada, Joyce Rezende, pela coordenadora do Celetivo ‘Vai Ter Gorda’, Adriana Santos, pela Editora de Home no portal iG e gordoativista, Naiana Ribeiro e pela Idealizadora e coordenação do Coletivo Empodegorda, Amerifricana, Artesã Gastronômic, Clarissa Albergaria.

“Essa é uma luta que nós carregamos no nosso corpo todos os dias e todos e todes que estão aqui, são pessoas que me inspiram muito a fazer esse enfretamento. Precisamos fazer valer esse espaço que temos na Câmara para debater assuntos que nos pertencem. Não temos como não falar sobre nossas existências, porque é a partir dela que a gente se constrói. Antes de ser co-vereadora, advogada, eu sou uma mulher preta, mãe, de candomblé, lésbica e gorda e por isso faço a luta a partir da minha história”, pontuou a co-vereadora da mandata, Laina Crisóstomo.

Essa semana, em suas redes sociais pessoais, Laina compartilhou um ensaio fotográfico sensual. Em suas legendas, ela contou parte de como a gordofobia a maltratou e a violentou, até que ela conseguisse romper a teoria dos padrões impostos. Durante a Sessão, a parlamentar aprofundou o assunto: “Postagens sensuais do meu corpo vai além do fato de eu gostar de postar foto sobre ele. Elas falam sobre toda a trajetória de massacre ao meu corpo, dos questionamentos que eu fazia para caber em um padrão que não era o meu. Não é sobre uma foto sensual apenas. É sobre o processo do resgaste do meu auto amor, autoconhecimento e auto estima. Eu sou gostosa e sexy sim. É assim que me sinto e ser gorda ou gordo não é um problema para nenhum de nós”, acrescentou.

O acesso a saúde e também o acesso a equipamentos que atendam a pessoas gordas, fez parte da discursão já que, muitas vezes, as macas e cadeiras de rodas disponíveis nos hospitais e prontos socorros, não comportam pesos acima de 110 kg. Essa realidade e falta de acessibilidade se repete em cadeiras dos coletivos, nos assentos dos bares e restaurantes, nos aeroportos, nos aviões, o que reafirma o quão a sociedade e estabelecimentos não estão preparados para receber esse público, colocando as pessoas gordas no isolamento.

“O medo da gordura é estrutural e estruturante. Porque crescemos achando que um corpo gordo não é permitido e que se tivermos esse corpo estaremos atrás de quem quer que seja. Nós não temos acesso ao básico, porque é um corpo que não existe para a sociedade. É nessa perspectiva que a gente perde acesso a tudo, a saúde e etc. E a indústria farmacêutica vai ganhando em cima disso, porque desenvolvemos distúrbios diversos que nos obriga a procurar outros tipos de ajuda e medicamentos. E aí os médicos ganham em cima da nossa ‘não’ saúde, com mais pessoas decidas a fazer cirurgias e etc”, disse a Multimilitante, Milly Costa.

A co-vereadora Cleide Coutinho pontou também sobre os relacionamentos abusivos, onde o companheiro ou companheira afirmam que ‘o peso não está adequado’, correlacionando a beleza estética à pessoa estar e/ou ser magra. “Isso é um processo de baixa estima que aplicam na gente e é muito cruel. A pessoa acredita que de fato não está no padrão desejado pela sociedade e começa fazer dietas loucas, comprometendo a saúde, chegando até a ter vertigem e desmaios. Esse processo precisa ser rompido”, considerou ela.

A jornalista e editora de Home no Portal iG e gordoativista, Naiana Ribeiro, levantou uma questão relevante sobre como dentro de comunidades que também sofrem preconceitos. “Vivemos em uma sociedade em quer no calar em cada esquina. Essa Sessão é importante, justamente porque a gente traz várias vivências. É preciso falar de direitos para as pessoas gordas independente de gênero, de raça, independente da orientação sexual de cada pessoa. E esse preconceito existe em todo lugar, até mesmo dentro de comunidades que deveram nos abraçar, como por exemplo dentro das comunidades LGBT”, disse ela.

O assessor parlamentar da mandata Pretas Por Salvador, Gilmar Oliveira, também fez uma fala sobre a sua realidade. Ele reforçou a importância de discutir o tema gordofobia dentro do âmbito educacional, a fim de começar a construir uma sociedade menos preconceituosa, através das crianças que representam o futuro da nação. Ele compartilhou a experiência de um ex-colega de trabalho, que não pode utilizar o equipamento de segurança porque o aparelho não suportava pessoas acima de 120 Kg. “A gordofobia está em um conjunto de lugares e são muitas as violências. Eu evito pegar um ônibus coletivo porque, além de estar sempre cheio, eu tô cansado de descer e ouvir piadas dizendo que eu era um ‘armário’ dentro do coletivo, por exemplo. Nós não somos minoria, é um direito nosso ter acesso”, disse ele.

No encerramento da Sessão, as Pretas Por Salvador informaram que deu entrada em dois Projetos de Indicação (PIN) ao Prefeito Bruno Reis. Um deles, é PIN de Formação Continuada de Profissionais do Transporte Público Municipal, incluindo o tema de Combate a Gordofbia nos coletivos. “Pra quem não sabe, o Município de Salvador dá ao sistema de Transporte Público um incentivo fiscal de quase 55%. Então, porque que esse investimento não é feito em favor de quem usa os transportes, inclusive, promovendo acessibilidade a pessoas gordas? Nós estamos aqui para cobrar que esses 55% sejam investidos nos direitos humanos”, defendeu, Laina.

O outro PIN é a fiscalização da Prefeitura ao Sistema de Transporte Público sobre a adequação dos transportes para pessoas gordas, seja pela catraca, seja pelo acesso pela porta frente. As Pretas Por Salvador, inclusive, inicia hoje uma Consulta Pública para a criação do Projeto de Lei (PL) da Semana de Combate a Gordofobia, na Câmara Municipal de Salvador.

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