Na manhã desta quarta-feira (17/11), a mandata coletiva Pretas Por Salvador (PSOL/BA), em parceria com Odara – Instituto da Mulher Negra, presidiram a Sessão Especial Pela Vida do Povo Negro na Bahia. O evento aconteceu de modo semipresencial na Câmara Municipal de Salvador (CMS).

O evento contou com a presença de diversos movimentos sociais como: Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar; A voz do Axé; Coral de mulheres dos alagados; Rede cabula vive; As mulheres cabuleiras; Guerreiras da nova república; Mulheres em luta; Cama – centro de arte e meio ambiente; Odeart – Associação artístico e cultural

“Para nós, é muito emblemática que essa Sessão seja exatamente no novembro negro, um mês em que a gente debate a perspectiva da conscientização do povo negro, o combate e o enfrentamento ao racismo, na perspectiva de combater o racismo individual, coletivo, institucional, ambiental e do racismo religioso que nos acomete todos os dias. É uma pauta de luta e o dia de hoje se faz ainda mais importante por ser construído ao lado dos movimentos sociais”, disse a co-vereadora Laina Crisóstomo.

Em uma fala impactante, a articuladora do Instituto Odara, Márcia Ministra, ressaltou que a Sessão representa um momento de denúncia aos assassinatos que vem acontecendo nas periferias de Salvador. Para ela, grande parte desse cenário é responsabilidade do Estado, pois a própria polícia já chega nas comunidades tombando os corpos pretos. “Existe um projeto político de realmente exterminar a população negra tudo já começa com a retirada de direitos, da educação, da saúde. Dessa maneira, uma parcela da sociedade não branca é direcionada para o crime e a gente precisa se perguntar ‘quem está ganhando com nossos corpos nas estradas, estirados nas vielas?’. Nesses últimos anos percebemos a inoperância do Estado, afinal não temos presidente e isso é uma realidade”, pontuou ela.

Em 2021, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o aumento de assassinatos de pessoas negras cresceu em 37,5% em relação ao ano anterior. Vale ressaltar que o Brasil é o 5º país no mundo em que se matam mulheres, segundo dados do Mapa da Violência de 2015, organizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Dentro das relações interpessoais, a violência doméstica inclui várias formas de agressão ou negligência que ocorrem no âmbito familiar, onde as mulheres – principalmente as de cor negra – continuam sendo as principais vítimas.

A co-presidenta da ONG ‘Tamo Juntas’, Janine Souza, pontuou a importância de o tema está sendo discutido dentro da CMS, um espaço político e de tomada de decisão, onde pode sim haver o apoio dos parlamentares que são comprometidos com a causa, para mudar o cenário. Além disso, ela trouxe dados que evidenciam que o crime feminicidio se dá muito mais com mulheres negras. “Quando a gente analisa a taxa de assassinatos de mulheres não negras no país, dez anos após a criação da Lei Maria da Penha, a gente encontra o crescimento de 1,7% e quando analisamos os dados das mulheres negras que foram mortas no país, esse dado cresce para 60,7%”, detalhou.

A Sessão promoveu uma verdadeira reflexão sobre os tipos de violência sofridas pelo povo negro, que vai desde a marginalização dos jovens, a falta de oportunidades, a discriminação e o preconceito. Hoje, corriqueiramente, novos casos de policiais com abordagem discriminatória com o negro vem à tona. “Infelizmente a população negra é mais atingida por essa polícia letal que a gente tem hoje. Como já mencionado aqui antes, quando se inventou um crime, se inventou também um criminoso. Em Salvador, 90% das pessoas que vivem em condições de rua é negra e a cidade opera com uma necropolítica muito alinhada ao governo federal, sobretudo no retrocesso com a retirada de direitos e matança do povo negro”, disse a idealizadora do projeto Mamas Pretas, Belle Damasceno.

“Estou aqui vendo muitas mulheres, algumas certamente já avós ou mães e que podem ter perdido um de seus entes queridos, simplesmente por serem negros. Eu já tomei tanta porrada nessa vida que poucas coisas me fazem chorar e hoje me peguei em lágrimas ouvindo as falas da Sessão. Para nós, é um compromisso com a cidade, desde o planejamento da nossa campanha, essa luta pela população negra, pobre e em sua maioria feminina”, disse a co-vereadora Cleide Coutinho, ao finalizar o evento.

Com transmissão pela TV e Rádio CAM e também pelo FaceBook da CMS, a mesa da Sessão foi composta pela articuladora do Odara-Instituto, Márcia Ministra; as integrantes do projeto _ ‘Minha Mãe Não Dorme Enquanto Eu Não Chegar’_, Ana Suely, Edivalda de Jesus e Claudia Gomes; o advogado e escritor, Marlon Reis; a educadora de Rede Estadual, Jeovane Marusia; a idealizadora do projeto Mamas Pretas, Belle Damasceno; e a advogada e co-presidenta da organização Tamos Juntas, Janine Souza.

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