Uma tarde que deveria ser de votação, foi palanque de ataques LGBTfóbicos no plenário da Câmara Municipal de Salvador (CMS). Em Sessão Extraordinária, realizada nesta quarta-feira (15/12), durante a votação do Projeto Plano Municipal de Cultura (PMC), que foi aprovado na casa, a co-vereadora Laina Crisóstomo foi hostilizada por muitos vereadores da bancada evangelista que são contra ao PMC.
Entre diversas propostas que enaltecem e valorizam a cultura do município, o PMC propõem que a cultura LGBTQIAP+ passe a integrar a proposta da matéria. Sua aprovação é um marco histórico para cidade e uma oportunidade de construir políticas públicas que assegurem os direitos do público LGBTQIAP+. A co-vereadora da mandata Pretas Por Salvador (PSOL/BA), Laina Crisóstomo, única vereadora LGBT assumida na CMS, que já havia chorado em púlpito por consequência dos discursos marchistas e misóginos, passou, mais uma vez, por inúmeros ataques. Enojada, ela comparou as posturas dos parlamentares ao líder do partido nazista Adolf Hitler.
“Parecia que a gente estava na Alemanha Nazista, ouvindo um discurso de ódio, de segregação, de violência e de exclusão. De exclusão racial, de gênero, de minorias e de pessoas que sofrem violação dos direitos humanos todos os dias. Isso tem nome: é fascismo e temos vivenciado todos os dias com esse presidente da república que tem um projeto político extremamente genocida e assassino contra os nossos corpos”, comentou Laina.
Contra a aprovação do Projeto, o vereador Isnard Araújo (PL) protagonizou um momento machista e desrespeitoso, usando do momento de sua fala para coagir a co-vereadora, praticando, de forma evidente, violência de gênero, chegando a falar: “Sei que a vereadora Laina está quicando ali, mas aguarde seu momento de falar”.
Outro momento aterrorizante e, no mínimo, preconceituoso foi durante a fala do vereador Alexandre Aleluia (DEM). “Seu partido (PSOL) não respeita a família brasileira, vereadora. Seu partido é o partido do desrespeito a família brasileira, que desrespeita o nosso Deus, que desrespeita os brasileiros, desrespeita a história do Brasil”, atacou ele de cima do púlpito.
Em resposta ao desrespeito de Aleluia, Laina defendeu seu partido. “Eu tenho muito orgulho do partido que faço parte. O PSOL é o partido que não só prega, mas vive efetivamente o combate às desigualdades de gênero, a desigualdade racial e é um partido que todos os dias faz enfrentamento ao seu presidente fascista, ao seu presidente genocida. O meu partido, que eu construo e que tenho muito orgulho de fazer parte é o que mais defende a diversidade desse país, que tem maioria de mulheres na Câmara dos Deputados Federais e maioria de mulheres negras em todos os espaços. Nós somos um partido que constrói todos os dias um Brasil de verdade, uma nova esquerda que tem compromisso com a vida e bem estar das pessoas”, concluiu Laina.
Concordando com o vereador Aleluia, a vereadora Cátia Rodrigues (DEM) afirmou que não desrespeitou e nem descriminou Laina ou o público LGBTQIAP+, mas que discorda que sua compreensão de cultura são as histórias e tradições como as indígenas e portuguesas. A edil também levantou alguns questionamentos sobre o porquê não atribui o conceito de cultura a essa comunidade e mencionou que a co-vereadora chorou “por ser muito sentimental”.
“Como é que uma parada gay pode ser considerada cultura se cultura nós passamos de pai para filhos? Como é que os pais passam para os filhos um vilipêndio daqueles que pegaram um crucifixo e colocaram nas partes intimas e pegam Jesus e vilipendiam e isso vai passar de pai para filhos nas escolas para nossas crianças? É na parada gay que as crianças veem os símbolos cristãos sendo vilipendiados, então como eu posso ver e enxergar como cultura LGBT?”, questionou Cátia
Laina, respondeu: “Eu não sou sentimental, vereadora Cátia. Eu não tenho problema de chorar, porque as pessoas que choram são verdadeiras, elas não tem problemas de expor suas emoções e a gente tem construído política de uma outra forma, uma política de verdade, onde a gente não tem problema de demonstrar que naquele momento está fragilizado e está sentindo verdadeiramente a dor. E ser LGBT nesse país, é extremamente inseguro. Você não sabe o que é isso porque você nunca sentiu na pele o que é ser LGBT, então não ache que é sentimentalismo ou que é oportunismo quando não se sabe o que se vive”, disse Laina, finalizando a sua fala parabenizando o vereador Silvio Humberto pela sua relatoria e brilhante atuação.
“Parabéns por ser alguém que dialoga, que vem dos movimentos sociais e sabe exatamente como promover democracia. Parabenizo também o presidente da Câmara pela escolha que foi extremamente assertiva e foi uma escolha comprometida verdadeiramente com a diversidade presente nessa casa e que permitiu que a gente tivesse e continue tendo esse debate diverso aqui para garantir que todos os lados sejam ouvidos, mas acima de tudo que os direitos humanos vençam porquê tirar LGBT do plano de cultura ou da infância e juventude são mortes que vão ser jogadas nessa Câmara”, concluiu.
Tramitando na CMS desde junho, o PL 208/2021 partiu do executivo municipal e tem participação e aprovação popular. Dos 43 vereadores apenas os vereadores Isnard Araujo (PL); Alexandre Aleluia (DEM); Ireuda Silva (PRB); Anderson Ninho (PDT); Julio Santos (PRB); Cátia Rodrigues (DEM) votaram contra o Projeto.
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