Na tarde desta terça-feira (15/02), a mandata coletiva Pretas Por Salvador (PSOL/BA), participou do Ebó Coletivo em frente à Câmara Municipal de Salvador (CMS), em favor e em defesa da Lagoa do Abaeté, espaço ancestral para o povo da religião de matrizes africanas que protestam contra o Projeto de Lei (PL) nº 411/21 que altera o nome de ‘Parque Dunas do Abaeté’ para ‘Monte Santo Deus Proverá’ e a urbanização do local.
A manifestação foi organizada pela Frente Nacional Makota Valdina e teve o objetivo de reunir a população e o povo de santo em defesa de um estado laico e da preservação do nome da lagoa e dunas do Abaeté. No período da tarde, durante a Sessão Ordinária na CMS, a co-vereadora da mandata, Laina Crisóstomo saiu em defesa da trajetória ancestral do local e da necessidade de preservação da natureza.
“Os atos que tem acontecido nos últimos dias mostram o quanto a gente precisa continuar a fazer luta para garantir a memória ancestral. Abaeté é o nosso espaço sagrado e de todas as pessoas de Salvador. Eu, que tenho 35 anos, vivi parte da minha infância naquele espaço que também foi um espaço de lazer e de ocupação da periferia. Aquele local é uma área de proteção ambiental e isso precisa ser dito. Se tem uma coisa que nós povos de santos fazemos é respeitar a natureza, porque não há Orixá, vodu, inquice, não há manifestação dos encantados se não houver natureza. Preservamos rios, matas e queremos continuar a preservar as dunas e lagoas do Abaeté”, disse ela, durante a sua fala no púlpito.
Além de se opor ao PL, que é de autoria do vereador Isnard Araújo (PL), Laina usou do momento para denunciar o projeto que institui a urbanização da Área de Proteção Ambiental da Lagoa e das Dunas, que tem sido executado pela prefeitura Municipal de Salvador sem relatório de impacto ambiental; escuta da comunidade; Audiência Pública ou transparência e responsabilidade fiscal, desrespeitando inclusive a lei do acesso à informação.
“De onde vem esses 5 milhões Bruno Reis, que não está previsto no PPA nem na LOA? A gente não conhece esse projeto e estamos vendo o dinheiro público ser utilizado para uma religião e para uma religião que pode e vai expurgar outras. O espaço do Abaeté precisa continuar a ser amplo, ancestral que carrega história, mas um espaço público em que todas as pessoas possam acessar”, detalhou a parlamentar.
A Sessão Ordinária contou também com a presença da yalorixá Jacira Ribeiro, que fez uma fala potente e representativa destacando a frequência com que os povos de religião de matrizes africanas, precisam fazer embates contra os ataques sofridos diariamente. Na oportunidade, ela pediu que os parlamentares não permitam a aprovação do PL que simboliza mais um ato cruel e de intolerância religiosa, relembrando, inclusive, a alteração repentina no nome do aeroporto de Salvador, que antes era denominado pela data simbólica 2 de Julho e foi mudado para Dep. Luís Eduardo Magalhães.
“Estamos aqui hoje em projeto a esse PL que é perverso, porque o Abaté é de todos, do evangélico, dos católicos, do povo de matrizes africanas. O governo não pode disponibilizar uma parte que seja daquele espaço para evangélicos: é um espaço público que temos e podemos adentrar, então estamos aqui pedindo aos nossos parlamentares que intercedam e que não deixem essa perversidade contra nós”, enfatizou.
Emocionada, Jacira que, também é conhecida como presidente do povo de religião de matrizes africanas do subúrbio, relembrou a hostilidade do atual prefeito Bruno Reis (DEM) e sua comitiva que quase a atropelaram, além das agressões por parte dos seguranças quando saiam das Dunas do Abaeté, em Itapuã, na última quinta-feira (10/02), dia em que foi realizado um protesto que reuniu diversas lideranças de matrizes africanas, indígenas, ambientalistas e moradores do bairro, contra o PL e urbanização da área. “Eu tenho 71 anos e nunca passei o vexame que passei no Abaeté. Pertenço a luta desde os meus 13 anos de idade no movimento estudantil em 64 e nunca fui tão desrespeitada como fui no Abaeté”, desabafou.
Ao decorrer da Sessão mais vereadores discursaram contra ao PL e, por meio de uma participação em formato virtual o vereador Isnard, autor do projeto, decidiu recuar e anunciou a retirada da pauta na CMS, antes mesmo da votação. Após encerramento da plenária, o ato continuou e foi tirada uma comissão para dialogar com o presidente da Câmara, Geraldo Júnior.