Na manhã desta terça-feira (26/04), a co-vereadora Laina Crisóstomo da mandata coletiva Pretas Por Salvador (PSOL/BA), esteve na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), onde participou da Audiência Pública pelo dia Estadual de luta contra o genocídio dos jovens negros e periféricos no estado da Bahia, promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública e relembrou o assassinato brutal de tio e sobrinho no Atakadão Atakarejo, em Amaralina, Salvador.

A Audiência foi promovida pelo mandato do Deputado Estadual, Hilton Coelho (PSOL), com foco nas discussões sobre a violência e o genocídio contra a população negra da Bahia e a fim de ressaltar os casos constantes em que os corpos negros são ceifados pela polícia da Bahia, estado considerado o mais letal do país. O evento reuniu representantes de movimentos sociais, parlamentares, mas também familiares dos jovens mortos, durante o encontro a co-vereadora Laina Crisóstomo fez um discurso potente sobre um ano do assassinato dos jovens Bruno Barros da Silva, de 29 anos, e seu sobrinho, Ian Barros da Silva, de 19, que foram entregues a criminosos por funcionários da rede de supermercados Atakadão Atakarejo.

 “É muito forte ver esse Auditório repleto da nossa cara, repleto de quem nós somos, que a gente cada vez mais ocupe esses espaços institucionais, a partir das nossas narrativas e das nossas histórias. Existe uma diferença muito grande da gente fazer uma Audiência Pública nesse espaço presencial, porque é sobre sentir essa energia, mas acima de tudo se acolher porque o desafio está posto e é cada vez mais violento. Hoje, 26 de abril, completa um ano do caso emblemático e perverso do Atakarejo, é um ano de Ian e Bruno que tombaram por causa de um pedaço de carne, nós estamos falando de projeto genocida que quer fazer os nossos corpos tombarem a partir da lógica do capital, de guerra as drogas”, disse ela.

Os dados alarmantes sobre a violência praticada contra a população negra evidencia uma realidade cruel e da atuação de uma polícia letal pautada no racismo gritante do país. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2020, 100% das vítimas assassinadas pela polícia em Salvador eram homens negros.  A coordenadora do movimento Sem Teto da Bahia, dona Mira Alves, fez uma fala potente e representativa, através da condição de uma mãe que vivenciou a morte de seus filhos, mortos pela arma do estado e que segue buscando justiça e escuta por parte dos Órgãos Públicos.

 “ Nós temos que ser escutados, esse é o momento para as famílias se unirem e não terem medo de denunciar, como eu não tenho medo de dizer que perdi meus dois filhos caçulas para esse terror perverso e escroto do estado, quando eles matam os filhos dessas mulheres, elas praticamente vão junto. Nessa luta, não podemos temer, ter vergonha e nem medo de mais nada”, ressaltou Mira. 

De acordo com um estudo realizado pelo FBSP em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da USP, os levantamentos apontam que a Bahia, em termos absolutos, é o estado onde acontecem mais assassinatos do Brasil e já contabilizam 5.099 vítimas. Mesmo a população negra representando 56% dos 212 milhões de habitantes, a violência contra esses povos continua somando números assustadores. Em mais um momento emocionante da Audiência, a assistente social e fundadora do Coletivo Incomode, Nadjane Cristina falou sobre o extermínio dessas vidas e o medo que se alastra na capital.

“Eu não estou alegre por estar sentada aqui, porque quando estou aqui, falo por aqueles amigos que foram tombados pela bala institucionalizada. Há alguns dias perdi amigos que foram vítimas da violência do estado, a população do subúrbio ferroviário precisa tirar a 1802, a gente não suporta mais, as mães não suportam mais financiar a bala que mata seus filhos. Eu sou mãe de meninas, antes era gratificante, hoje, eu tenho medo das minhas filhas saírem na porta e serem atingidas, serem mais um Joel. Estou muito totalmente triste com o que tem acontecido em Salvador, os fardados que são pagos com o nosso dinheiro, são responsáveis pela mesma bala que nos matam”, pontuou ela.

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