A Sessão Especial em comemoração aos seis anos da ONG feminista e antirracista Tamo Juntas, aconteceu na manhã desta quinta-feira (12) no Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador (CMS). A femenagem visa reconhecer a atuação da organização que, há seis anos, atende e acolhe mulheres em situação de violência, em todo o país.  

Composta por mulheres profissionais que atuam voluntariamente na assistência multidisciplinar a mulheres em situação de violência, a Tamo Juntas possui voluntárias em diversas regiões do Brasil. Fundada em maio de 2016 pela co-vereadora das Pretas Laina Crisóstomo, atua politicamente na perspectiva de denunciar e combater a violência contra a mulher em diversos níveis fundamentando seus princípios, posturas e práticas na perspectiva feminista, antirracista, anticapitalista, anti LGBTQIfóbica. A Sessão além de reconhecer a atuação da ONG, essa que inclusive, têm realizado um trabalho que deveria ser executado pelo Estado, abordou a necessidade de fortalecer políticas públicas para mulheres.

“ São seis anos de história, seis de acolhimento, seis anos de luta, acolhendo mulheres, mas para além disso são voluntárias que atendem de forma gratuita, mas acima de tudo são feministas, promovendo um debate de não revitimização, um debate na verdade de acolhimento a partir de uma outra lógica, e, não é acolhimento jurídico apenas, porque a gente sabe que o judiciário é machista, é patriarcal, é violento com as mulheres, promove violência institucional, mas é também pensar de que forma essas mulheres precisam ser acolhidas na perspectiva multidisciplinar. Então o serviço social presente, a psicologia presente, enfim, que a gente cresça cada vez mais”, pontuou Laina.

A consolidação da Organização se dá também como resistência aos acontecimentos políticos nos últimos anos; como as investidas da bancada religiosa fundamentalista contra os direitos reprodutivos das mulheres, a liberdade de pensamento e de cátedra no que tange a equidade de gênero (Escola sem Partido), o estrangulamento orçamentário da saúde, educação e nas políticas de combate a violência contra a mulher e o crescimento de todas as formas de violência e discriminação contra as mulheres. A Superintendente de Prevenção à Violência da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), Major Denice, ressaltou em sua fala a importância da escuta no combate a violência contra mulher e na necessidade de eleger mulheres que atuem pelo fortalecimento de outras mulheres.

“A gente precisa ouvir as pessoas, entender que somos mais fortes assim, eu acho que a gente tem que caminhar nesse sentido. Então nós precisamos fortalecer essa rede, isso a gente faz com políticas públicas, isso a gente faz elegendo mulheres como Marta, elegendo essa mandata maravilhosa, isso a gente faz passo à passo, elegendo a futura prefeita de Inhambupe, a gente faz pensando que cada ação que fazemos precisa ajudar a nossa irmã, tudo que a gente faz, sejam as nossas escolhas, ações ou missões precisam ajudar as nossas irmãs”, destacou Major Denice.

Ainda no mês de fevereiro deste ano, em estudo publicado na revista The Lancet, aponta-se que 27% das mulheres de 15 a 49 anos sofreram violência física e/ou sexual dos parceiros masculinos durante a vida. Destas, 13% foram violentadas nos últimos 12 anos de pesquisa (em 2018). Presente no evento, a co-vereadora das Pretas, Cleide Coutinho relatou um caso de feminicídio cometido nesta última quarta-feira (11).

“ Pra mim estar aqui hoje tem um grande significativo, fortalecer primeiro essa luta, a Tamo Juntas é uma parceira da nossa mandata, e o outro motivo, é que ontem à noite eu recebi mais uma denúncia de uma companheira que foi assassinada, foi assassinada por uma cara que ela estava amando, e ela dedicou a sua vida a essa pessoa e essa pessoa tirou a vida dela. Para mim essa data é muito especial e que ela siga por muitos e muitos anos, que a gente siga nessa construção de fortalecer mulheres e de construir coletivamente essa luta”, relatou ela.

 A Sessão também abordou as inúmeras ações promovidas pela Organização, como Mutirões de atendimento em comunidades, eventos e rodas de conversa que ganharam destaque na mídia. Para a co-presidenta da Tamo Juntas, Letícia Ferreira, a estrutura de um país machista é fator decisivo nas inúmeras dificuldades vivenciadas pelas mulheres que estão em situação de violência.

 “Romper a violência conjugal é um passo, romper a violência do estado é muito mais difícil, então quando as mulheres rompem o processo da violência dentro de casa, elas continuam tendo que romper uma série de processos violentos que atravessam, que nós atravessamos, seja da naturalização da violência, seja de muito reforço de estereótipos, de estigmas, então por isso nós caminhamos até que todas sejamos livres”, disse ela.

O evento, que foi transmitido pela TV e Rádio CAM, e também pelo Facebook, reuniu mulheres com representatividade para a história da Tamo Juntas. Além das co-vereadoras das Pretas, Laina Crisóstomo e Cleide Coutinho, compuseram a mesa também a co-presidenta da ONG, Letícia Ferreira; a Defensora Pública Estadual e Coordenadora do Núcleo de Defesa das Mulheres da DPE/Ba, Lívia Almeida; a Assistente Social da Tamo Juntas, também assessora parlamentar da Mandata Pretas por Salvador, Rose Oliveira; a Superintendente de Prevenção à Violência da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), Major Denice; a Ativista Feminista do Coletivo de Mulheres do Calafate/AMB, Marta Leiro; a Doutora e Mestre em Direitos Humanos, Camila Magalhães; a Coordenadora do Escritório Social Bahia e ex-diretora penitenciária do Conjunto Penal Feminino de Salvador, Luz Marina; a Advogada e Ativista, Carla Lima; a vereadora, Marta Rodrigues (PT/BA); a assistente social e representante do Instituto Odara, Joyce Lopes; a Psicóloga Clínica, Bruna Lima e a coordenadora da Associação Papo de Mulher, Angélica Santos.

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