Na noite da última quarta-feira (15/06), a mandata coletiva Pretas Por Salvador (PSOL/BA) em parceria com o mandato do vereador Silvio Humberto (PSB), presidiu uma Sessão Especial na Câmara Municipal de Salvador (CMS), debatendo o tema: ‘Lésbicas e Sapatonas em Questão: Na Luta por Políticas de Vida’. O evento reuniu mulheres lésbicas de diferentes regiões, representantes de movimentos sociais e do poder público, visando fortalecer a discussão e a reflexão sobre os estigmas, preconceitos e a lesbofobia existentes na sociedade.
No mês do orgulho LGBTQIAP+, a Sessão reafirma a necessidade de debater um tema de extrema importância para sociedade, promovendo um momento histórico na Câmara, o encontro ouviu diversas mulheres que falaram a partir de suas próprias vivências e trajetória de luta. Proponente do evento, o vereador Silvio Humberto ressaltou a oportunidade de aprendizado em um espaço que discute e reivindica políticas públicas necessárias para as existências lésbicas.
“Não dá para falar de dignidade humana de forma parcial ou só na retórica, trazer esse tema na medida que isso chegou até nós enquanto parlamentares, porque quando se pensa em políticas públicas sem visibilidade não tem como afirmar que o problema existe. Essa é uma noite pedagógica, porque quando você não conhece a tendência a você discriminar é muito maior, não digo que você vai eliminar o sexismo, o racismo, mas na medida que você conhece, na medida que você é educado para diversidade, para respeitar o outro”, disse o parlamentar.
A co-vereadora das Pretas, Laina Crisóstomo é a única parlamentar lésbica e LGBT assumida ocupando um espaço legislativo na CMS, de modo que é a única que de fato representa a comunidade LGBTQIAP+ a partir do seu próprio corpo e vivências. Com uma trajetória de luta pelos direitos dessa população e pelo acesso inclusivo, a parlamentar tem feito história em um espaço machista, violento e retrógrado.
“O debate é que cada letra tem história, são vidas e eu quero que seja um alfabeto inteiro até que todas as pessoas consigam se entender em alguma dessas letras, porque é muito difícil e pra mim que sai do armário depois dos trinta, foi muito difícil por muito tempo viver a heteronormatividade compulsória e para caber numa caixa que não me cabia, e o que o padrão determinava, ter um relacionamento com um homem, um filho e depois disso foi que eu literalmente me libertei. É um processo muito violento nesse caminho, que a gente precisa todos os dias romper, as nossas conquistas são muito recentes”, destacou ela.
Em complemento ao seu discurso Laina, comemorou o marco histórico que representa a realização da Sessão, mas também fomentou as dificuldades constantes de acesso a direitos na casa, relembrando a rejeição do Projeto de Lei (PL) Luana Barbosa, que instituía a criação do dia municipal de combate ao lesbocídio, e não foi aprovado sob a justificativa de que geraria custo ao erário público.
O evento ressaltou a ausência de dados sobre a existência de mulheres lésbicas, essa inclusive, é uma das pautas de lutas do LesboCenso, também foi ressaltado o número alarmante de assassinatos contra a comunidade LGBTQIAP+, o Brasil em 2021, liderou o ranking de país mais violento contra essa população, foram cerca de uma morte a cada 29 horas.
“Em uma sociedade onde a gente precisa estar o tempo inteiro lutando, falando do combate ao lesbocídio e hoje aqui falando sobre a garantia da vida e do bem viver, a gente precisa falar do quanto os nossos corpos são atravessados e a gente não tem paz, inclusive, essa paz com certeza é hétero, branca e cis porque ainda não me foi apresentada”, ressaltou a historiadora e Dirigente Nacional PSOL de Mulheres em Vitória da Conquista (BA), Keu Souza.