Na manhã desta sexta-feira (15/07) a mandata coletiva Pretas Por Salvador (PSOL/BA) esteve na Escola Superior de Advocacia, onde participou do Ovulário do Julho das Pretas que, neste ano, abordou o tema “Mulheres Negras no Poder: resistência e enfrentamento a violência política”. Organizado pela ONG Tamo Juntas em parceria com a Escola, o evento integrou a agenda nacional do Julho das Pretas que, em sua 10ª edição, visa o fortalecimento das mulheres negras nas diversas esferas da sociedade.
Reunindo mulheres que atuam em diversos âmbitos da sociedade e que usam desses espaços com protagonismo pela luta contra o racismo, machismo, bem como as diversas problemáticas que atingem as mulheres negras do país, o Ovulário termo que condiz a atividade produzida por mulheres, destacou a importância de ampliar as discussões acerca dessas pautas ressaltando a resistência às diversas violências enfrentadas pelas mulheres negras que ocupam e disputam espaços diversos de poder. A co-vereadora Laina Crisóstomo, também fundadora da ONG Tamo Juntas, esteve presente no encontro e falou sobre a necessidade de se pensar em alternativas que abracem o cenário de vida das mulheres, para conseguir fazer um debate reintegração de posse dos espaços, a exemplo de creche e também política de acolhimento às mulheres mães, por exemplo.
“Minha filha está aqui, por exemplo, porque precisava trazer. E se é proibido trazer os seus filhos para um espaço de debate como esse o que acontece? Você acaba proibindo que essas mulheres acessem os espaços e possam se formar e se fortalecer na luta. Isso, sem dúvidas, faz com que, cada vez mais, a gente tenha menos mulheres ocupando espaço de poder. Fica evidente que o que nos impede de estar nos espaços, é muito diferente daquilo que impede os homens. Pensar em mulheres negras no poder é pensar no quanto a gente tem um retrocesso na luta. A gente não conseguiu acessar o direito político que nos foi negado durante muito tempo. As mulheres conquistaram o direito ao voto de forma muito tardia, mas imagine que em 2015 as empregadas domésticas, por exemplo, não tinham seus direitos trabalhistas garantidos. É muito difícil fazer a luta sem fazer a crítica”, disse ela, pontuando um fato histórico da Lei Maria da Penha, que há dez anos tem feito análises sobre os casos de feminicídio, garantindo direito a mulheres, porém, sem beneficiar igualitariamente mulheres brancas e negras:
“Há 10 anos ela existe mas é extremamente ineficaz a mulheres pretas, porque no mesmo período houve a diminuição a violência contra mulheres brancas e aumentou, em mais de 50% ,a mesma violência contra mulheres negras. Não sou eu que tá dizendo: são dados históricos”, afirmou.
O evento faz parte das atividades propostas pelo Julho das Pretas, ação de incidência política e agenda conjunta e propositiva com organizações e Movimento de Mulheres Negras do Brasil, propondo temas que coloquem em pauta e no centro do debate político essas mulheres. Criada em 2013, pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, a iniciativa celebra o 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha. Também compondo a mesa a co-vereadora Cleide Coutinho fez um discurso potente contando a sua trajetória de vida, uma história de superação e resiliência, fazendo um contraponto de incentivo a outras mulheres.
“A gente precisa pontuar a nossa luta porque não é fácil o caminho e também não é fácil permanecer onde se chegou. Nada pra gente vem fácil. Tudo pra gente conquistar vem com mais peso, mais responsabilidade, precisamos sempre mostrar a nossa força que é muito grande. Hoje estou nesses espaços de poder, firmando a minha luta, olhando pro meu passado, olhando de onde eu sair para onde de hoje eu falo. Eu preciso fazer com que outras mulheres, que estejam lá atrás, vejam e entendam que é possível a gente chegar, se fortalecer e alcançar espaços que a gente nunca imaginava”, registrou ela.
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