É fato que atualmente vivemos num grande e horrendo retrocesso para as mulheres no Brasil, trata-se não apenas do novo governo, mas de todo o machismo que se revela de maneira confortável, escancarada e normalizada por vários brasileiros. Integrante da décima quarta edição da Fazenda, programada exibido na TV Record, o ator Iran Malfitano disse em alto e bom som que: “quando o estupro é inevitável, relaxa e goza”, mesmo após ter sido pontuado pelos outros participantes que consideram a frase inaceitável, o artista justificou nesta última quinta-feira (13) que a frase é admissível numa roda de amigos.

Os dados alarmantes de abuso sexual contra meninas e mulheres no Brasil, grita, ressalta, ratifica como nós, mulheres, estamos expostas a todo tipo de perversidade e em todos os ambientes. Nunca foi sobre a nossa roupa, batom, ou até mesmo local que frequentamos, sempre foi sobre o machismo visivelmente presente em todos os âmbitos da nossa sociedade, especialmente em casa, onde deveríamos nos sentir seguras e protegidas. Em um programa de TV aberta, disponível para todos, Iran verbaliza com total naturalidade frases que nitidamente são problemáticas, despertam gatilhos, incentivam a violência e nos desencoraja a continuar uma luta que parece não ter fim, não bastando naturalizar o estupro, ele ainda citou que: “implora para limpar a bunda da filha de onze anos”, e acrescenta em outro momento, com muito orgulho por sinal, que ele, um homem adulto, toma banho pelado com a filha.

Para muitos essa é uma relação “saudável” entre pai e filha, mas sabemos o quanto frases como essa corroboram para que os abusos passem despercebidos, pareçam inofensivos e despretensiosos, essa seria mais uma forma de mascarar uma violência que acomete jovens, crianças, adultas, todos os trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Mesmo com imensa repercussão nas redes sociais contra as falas de Iran, essa é apenas a ponta de um imenso iceberg, precisamos nos unir para que ao invés de nos mandarem “trocar de roupa, não usar maquiagem, não sair na rua”, penalizem corretamente os agressores, desenvolvam sistemas de segurança para nós, eficazes, que nos ouça, nos acolha, nos proteja, nos garanta uma vida livre, com acesso e direitos sobre nosso próprio corpo.

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